quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Como funcionam as correntes marinhas? - Parte III

Por Tatiana Maria

Mudanças climáticas e circulação oceânica

Apesar de existirem divergências de opinião envolvendo as causas reais do aquecimento global – ainda é incerto que a espécie humana tem culpa no cartório no que diz respeito a este fenômeno – o fato é que o clima está sendo alterado, e a forma como as águas circulam pelos oceanos também. E pior: as transformações no fluxo destas águas podem levar a mudanças climáticas ainda mais drásticas no planeta.

Como expliquei no primeiro post da série, oceano e atmosfera (através do conjunto de estados atmosféricos que caracterizam o clima) estão diretamente relacionados; assim, alterações em um desses sistemas provocam mudanças no outro.

Mas de que forma o sistema oceânico é afetado?

Com o aumento de temperatura da Terra, as geleiras próximas aos polos derretem mais, e isso altera tanto a densidade da água do mar – responsável pela formação das águas profundas e frias que compõem a CTG – quando a extensão de água que fica protegida da radiação solar debaixo do gelo marinho – que reflete a maior parte da radiação solar, ao contrário da água do mar, que absorve a maior parte dessa energia.

Quando a densidade é diminuída (devido à diminuição da salinidade causada pelo derretimento do gelo), a água "perde força" para afundar, diminuindo a formação de águas frias e profundas para completar o ciclo da CTG e, por fim, reduzindo também o papel dos oceanos como reguladores climáticos! No final das contas, essa cadeia de acontecimentos resulta numa maior diferença de temperatura entre trópicos e regiões de altas latitudes. Isso faz diferença pra mim, que moro em Recife e sinto que os verões aqui estão cada vez mais quentes, e pra você, que talvez more (ou já tenha ido) na Europa e perceba como os invernos europeus estão cada vez mais gelados.

Ao mesmo tempo, quando a camada de gelo é diminuída, surge uma maior quantidade de água líquida, que absorve bastante energia solar e armazena mais calor, provocando mais derretimento e causando o efeito "bola de neve" (no esquema abaixo, o resumo de toda a complicação):


O derretimento desses imensos blocos de gelo e o aquecimento dos oceanos podem causar sua expansão, elevando o nível do mar e ameaçando a existência de regiões costeiras, onde está concentrada boa parte da população mundial. Tais locais poderão ter grande parte de seus territórios engolidos pelas águas!

As evidências das transformações em curso podem ser vistas em corais, que se alimentam de nutrientes trazidos pelas correntes ou em aparentes paradoxos em matérias sobre clima e meio ambiente.

Poluentes e correntes marinhas: uma mistura perigosa

Da mesma forma que as correntes transportam seres vivos e partículas orgânicas através dos oceanos, substâncias poluentes e prejudiciais às comunidades marinhas também podem ser "carreadas" pelos "rios" de água salgada.

Um notável exemplo, que ocupou a mídia por vários meses de 2010, foi o gravíssimo acidente que fez jorrar petróleo a 1600 metros de profundidade por quase 90 dias em pleno Golfo do México, local onde a Corrente do Golfo se origina. Um mês depois do ocorrido, as manchas de óleo penetraram nesta corrente, com o risco de fazer o óleo se alastrar ainda mais!

Depois de inúmeras tentativas por parte da British Petroleum, empresa petrolífera que operava a plataforma envolvida no acidente, o vazamento foi completamente contido em julho, mas só o tempo vai revelar todos os estragos causados pelo acontecimento. Alguns já são bem visíveis desde a chegada da mancha à costa do Golfo: praias em risco, espécies frágeis ameaçadas, turismo e pesca prejudicados.

É bom ressaltar que, como esperado, a empresa petrolífera tentou encobrir ao máximo as operações no Golfo do México, isolando a área de todas as formas para que jornalistas e fotógrafos não registrassem a real magnitude do desastre provocado pela maré negra. Outra: a BP insistiu em financiar os estudos relacionados a este vazamento, tomando do governo o controle sobre o direcionamento que está sendo dado a tais estudos.

Fica a pergunta (retórica, claro) de Jeff Short, encontrada no link logo acima: por que é que a BP quer dar dinheiro para projetos que demonstrarão claramente um prejuízo ambiental muito maior do que se viria a saber, se não fossem esses estudos?


Até a próxima!

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Para saber mais sobre correntes marinhas e todos os aspectos abordados nesta série de posts: volume 1 da Coleção Oceanos, da Scientific American Brasil; documentário de tv sobre a Corrente do Golfo; matéria A dança das águas, da revista Ciência Hoje das Crianças nº 201; Especial Golfo do México da BBC Brasil; livro Fundamentos de Oceanografia, de Tom Garrison (Ed. Cengage Learning, 2009).

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